sexta-feira, 9 de março de 2012

A kebrada tem cérebro, alma e cor-ações abertos




 
Mês passado estive com o empreendedor social economista e sociólogo Celso Sekiguchi, que me convidou para conhecer a Kebrada do Campo Limpo. 
 Kebrada é uma gíria que se refere de forma carinhosa ao espaço, bairro onde se vive. Marcamos uma segunda feira para conhecer a União Popular de Mulheres e o Sarau do Binho. Fui de ônibus saindo do Terminal Santo Amaro em direção ao Terminal Campo Limpo. Os ônibus são aqueles bem compridos, biarticulados com o dobro de capacidade dos comuns. No caminho já fiz amizade com uma simpática senhora que  se ofereceu para me levar até o Jardim Maria Sampaio, distrito do Campo Limpo, onde fica a ONG e o seu banco comunitário
 
Chegando lá fui recebida pelo Thiago Vinicius de Paula, jovem empreendedor e analista de crédito do Banco Comunitário União Sampaio, que me apresentou a casa e me explicou que os movimentos populares tem a preocupação em atender as demandas da comunidade, mobilizando as pessoas  para resolvê-los agora, por meio de ações coletivas como os multirões, por exemplo.
Casa da Mulher e da Criança (mas também de idosos e pessoas de todas as idades, crenças, cores, amores, etc.) como é conhecida a UPM é um espaço em que as pessoas podem se reunir para aprender. Eles  tem cursos de alfabetização, informática, artes e atividades para a Terceira Idade. Rafael Mesquita, gestor do banco e um dos articuladores da Agência Popular de Fomento à Cultura Solano Trindade, juntamente com Thiago Vinicius e várias pessoas e coletivos do Campo Limpo, Capão Redondo e adjacências, me contou do Banco Comunitário União Sampaioque fomenta a economia solidária. Já a Agência Popular Solano Trindade fomenta a geração de renda por meio de atividades artísticas, educativas e socioculturais. 
 
Naquela tarde conheci muitas pessoas interessantes, me surpreendi com os  diversos projetos desenvolvidos, com a mobilização da comunidade, com a força dos líderesÀ noite fui prestigiar o Sarau do Binhoevento que acontece todas as segundas-feiras no bar que leva o nome deste empreendedor social (que criou projetos como a Bicicloteca, a Brechoteca, o "Donde Miras", e realiza além dos saraus em seu bar e de sua esposa, a Suzi, também saraus para crianças em bibliotecas públicas, etc.) e possibilita o encontro de pessoas do bairro que apresentam suas poesias, seus pensamentos, suas indignações e seus amores, assim como articulam os movimentos e outras iniciativas de mobilização das comunidades.
 
Foi um dia muito especial, agradeço ao Celso Sekiguchi pelo convite e a todos que me receberam com todo carinho naquele dia.  E saí da Kebrada do Campo Limpo , refletindo a respeito da importância de se conhecer o outro, daí a importância do projeto Vivências Comunitárias que vem sendo articulado pela Agência como um todo, especialmente  pela turismóloga Amanda Melo. Projeto este que consiste em levar, tanto as pessoas da comunidade para conhecerem o universo de atrativos existentes  em toda a região, como para poderem visitar em grupo, outras regiões e localidades fora das "kebradas". Por fim, o projeto também possibilita que pessoas de fora das comunidades também possam conhecer, entender, aprender ensinando e comparilhando conhecimentos sobre diversos temas e iniciativas de interesse comum, como os projetos de economia solidária e criativa, cultura periférica, articulação e mobilização populares, educação, cultura e sustentabilidade nas comunidades, processos de desenvolvimento local a partir das visões das mesmas, etc. 
Sarau do Binho
 

 Sempre vejo projetos sociais que contemplam a periferia, que visam oferecer cursos de capacitação para as comunidades carentes, etc. Mas, querem saber? Depois do que vi naquele dia, acho que são eles que devem oferecer os cursos para aprendermos como mobilizar pessoas por uma causa, como praticar a solidariedade de forma criativa, como valorizar a cultura local em meio e resistindo à invasão cultural e distorções de imagem impingidas por boa parte da mídia.
 
E de como sobreviver com projetos com verbas de R$20.000,00, para o ano todo, multiplicando ações, recursos, relações e tornando possíveis a melhoria de vida em seus vários aspectos nas periferias de grandes metrópoles, que se esquecem e abandonam, quando não, simplesmente destratam suas comunidades.
 
O pessoal da Kebrada tem cérebro, "corpo, alma, gestos, sons", inteligência e sonhos magníficos e eu tenho muuito que aprender com eles, como eles dizem :
"Tamus juntos e misturados", para sempre!
 
Colaboraram neste post: Celso Sekiguichi , gratidão pela criação coletiva. Valeu!